Todo babaca tem um pouco de navio negreiro

1-a-a-a-a-homossexuais-laerte-todo-mundo-gayO bom humor é uma característica exigida nos cotidianos da vida, nessa linha tênue entre leis atávicas do senso comum e brilhantes variações psicológicas da indústria da felicidade auto-ajudada. Pra emprego então o bom humor disputa cabeça a cabeça com o dinamismo o status de primeiro critério de seleção.

Bom humor e dinamismo tornam jegues em gerentes, e tornam-se mais que meros recheios de um mundo de competência adquirida. Bom humor e dinamismo tornam um sujeito banal em um bemhumoradíssimo gerente chefe da rapaziada, amigo do diretor e genro do dono.

O Bom humor tornou-se faz tempo uma lei geral da humanidade, sorrir é preferível a xingar. Sorrir é mais importante que lutar por direitos, que refletir. Sorria, sorria, é tempo de sorrir, sorria!

Um sorriso dinâmico é melhor que MBA.

A felicidade que irá desabar sobre os homens é mais que uma ditadura, ela virou um status quo gargalhante numa versão concretizada do Admirável Mundo Novo de Huxley, onde nem as pilulas de felicidade e simulação de orgasmo faltam mais.

Só que a felicidade obrigatória tem um que de punheta. É bom, mas… Não é foda.

A felicidade obrigatória não tem o tom de amargura que o riso tem, todo ele, em suas melhores fases. O ceticismo cínico de Groucho não era fruto de anos felizes nas neves europeias, rir ali era desmoralizar a partir de um riso descrente no outro, descrente e sabedor do patético do humano. Chaplin idem, Monty Python idem. O bom, no sentido qualitativo, humor, era menos o bem humoradismo babaca de hoje e mais um humor de qualidade filho dileto do cinismo e da descrença no humano.

“Ah, mas Chaplin acreditava na humanidade!”, sim, acreditava, mas vendo que ela era ao mesmo tempo patética, cruel, burra. Monty Python idem faz troça da própria fé na humanidade, que todos eles têm. O humano patético, burro, cruel, raso é um humano que mesmo sendo uma bela anta pode transformar o mundo. Mas ele nunca vai transformar o mundo se for tratado como um babacão sorridente e acomodado na caixinha em que foi destinado a se encaixar.

Todo babaca é contra-revolucionário.

navio-negreiro-dafhneE aliás, esse lado entusiasmado, empolgado, feliz e sorridente da babaquização da humanidade é o que torna as pessoas de uma burrice estanque atroz. É a burrice babaca, do cara que opta por não refletir em nome de garantir seu pedaço de estábulo, com medo de refletindo entender o quão babaca está sendo e com isso perder sua ração diária de feno.

O bom humor obrigatório babaquiza e estagna até o imbecil atávico.

No reino do humor construído em um mundo árido, feito do ceticismo necessário que não aceita entrar em um clube que lhe aceite como sócio, o imbecil atávico ri, mas ri mudando, deixando de ser zé ruela, ri de si mesmo, ganha sabedoria.

A acidez do riso canalha desimbeciliza o homem.

E todo babaca tem um pouco de navio negreiro.